A primeira vez que te vi, você estava com o cadarço
desamarrado sentado sozinho no banco da praça. Lembro-me que tropecei em uma
pedra logo que você completou a paisagem que os meus olhos estavam a admirar. A
senhora que alimentava os pássaros perguntou se eu estava bem, respondi que sim,
e continuei a caminhar sem direção. Quando meus olhos se voltaram novamente
para você pude perceber um sorriso tímido moldando seu rosto. Retribui com uma
leve arrumada na franja (típico de uma garota!). Fui para casa naquela manhã de
outono com pensamentos longínquos, contemplando o tempinho ameno e me imaginando como
protagonista de um filme bem romântico. Logo que a noite chegou e a lua brilhou
naquele céu estrelado, tomei uma dose de realidade e tive a percepção de que
nunca mais te veria novamente. Eu, a
gata borralheira de óculos armação anos 40 e cabelo estilo nem te ligo sonhando
com um príncipe encantado. Acho que a vida sempre gostou de brincar comigo.
Na manhã seguinte
resolvi ir até a livraria do shopping, queria encontrar em meio a tantas
histórias uma que me fizesse esquecer aquele momento. Quando finalmente
encontrei um livro que julguei ser bom apenas pela capa, uma mão que me
transmitiu certo conforto tocou a minha, como num ato natural me virei na
direção na qual você estava. Você, o carinha pelo qual eu havia perdido uma
noite de sono. De repente me sumiram as palavras, admito que o meu coração
bateu mais forte. Minhas pernas? Elas já não faziam parte de mim, tremiam mais
que vara verde. Trocamos alguns olhares em meio ao silêncio. Era como se o
tempo estivesse parado só para nós. Não sei o porquê, mas queria quebrar aquele
clima constrangedor, por isso avisei que o cadarço do seu all star vermelho
estava desamarrado. Você sorriu, e esse gesto me fez bem. Confiei em mim. Confiei
em você.
por Ranna Botelho
Melhor texto!!! 😍😍😍😍
ResponderExcluir