domingo, 25 de outubro de 2015

Quando tudo muda e a gente nem se dá conta



Eu costumava sentar naquela mesa à esquerda, perto da janela, todos os fins de tarde das sextas-feiras, logo que meu turno no trabalho chegava ao fim. Pedia a mesma torta de morango e o mesmo chá de hortelã, e me sentia feliz por isso. Acho que sempre fui meio que apaixonada pela rotina e a ideia das coisas estarem sob o meu controle, sabe? Até que... Até que você apareceu, e roubou todas as certezas que tanto busquei construir.

Tudo estava perfeito, ao meu jeito, ao meu olhar. Terminei o serviço, saí do escritório, entrei no meu fusca branco e... Parei no semáforo na esquina da Avenida 22. Uma senhorinha muito simpática atravessou a faixa de pedestre ao seu tempo, mesmo após o sinal abrir. E então, eu acelerei e segui em frente... Observei que o seu Maurício e a dona Ana estavam pintando a fachada da casinha deles. A tinta era turquesa, mas não tão turquesa assim, eu diria. Mas turquesa acredito ser, enfim. Virei à Rua 17. Parei entre um carro vermelho e uma árvore flamboaiã. Sentei-me no lugar de sempre. Meu pedido todos já conhecem... Foi então que você chegou. 

Eu nunca fui disso, no entanto naquele dia não aguentei. Flertei-te com alguns muitos olhares entre mesas e mais mesas da padaria, e você correspondeu. 

Resolvi que estava na hora de ir embora. Paguei a conta e me encaminhei à saída. Porém, do nada, definitivamente do nada, começou a chover. Não me lembro de ter ouvido a moça do tempo falar que estava marcando chuva para aquele dia. 

O mais estranho de tudo aconteceu logo depois. Você apareceu com um guarda-chuva e ofereceu-se para me acompanhar até o carro. Eu aceitei, e foi o que aconteceu.

Nunca mais te vi novamente. Não sei seu nome, nem qualquer outra informação sobre você, seja ela relevante ou não. Admito que ainda espero à sexta-feira em que você entrará por aquela porta outra vez, e me oferecerá abrigo em seu guarda-chuva durante um fim de tarde chuvoso. 

Ah, se um dia isso acontecer, peço que traga de volta todas as certezas que eu sempre disse ter.  




Um comentário: