Lúcia já estava dentro do avião,
devidamente acomodada na poltrona, quando a tempestade começou. Logo o
comandante anunciou que o voo infelizmente seria cancelado, mas que os
passageiros teriam todo o suporte da companhia aérea.
Ela só se deu conta do que aquilo
significava quando já estava no ônibus em direção ao hotel. Uma menininha com
os olhos marejados questionava a mãe: "Como poderiam passar aquela data tão
especial longe da família?" A mãe apenas a abraçava e dizia que tudo ficaria
bem.
Lúcia, era aquela menininha,
alguns muitos anos atrás. Era ela quem montava a pequena
árvore na mesinha da sala, e escolhia o filme para ser assistido na noite do
dia 24. A mãe preparava os pães de
queijo, e assim que a fornada saía do forno, Lúcia separava os mais redondinhos
para colocar na simpática vasilha de plástico. Quando ia dormir a levava para o
quarto e coloca debaixo da cama. Ao acordar ela já não estava mais ali. Os
olhos da menina brilhavam com a certeza de que ele, o Papai Noel, havia
passado.
Mais especiais eram os encontros
na fazenda da avó. Filhos e netos à luz de lamparina se acomodavam um ao lado
do outro, e a cada novo ano celebravam aquela admirável união. Ela esperava
ansiosamente aquele momento mágico.
Lúcia lembrava-se ainda, da vez
que brincara de Amigo da Onça com a família, e o quanto foi disputada entre ela
e a prima mais nova, aquela bonequinha que vinha com uma banheira. A foto no velho álbum de
fotografias do pai não a deixara mentir.
Talvez tenha ficado naquele
abraço dos avós. Ou ainda, nas histórias dos seus tios. Talvez no sorriso dos
seus pais, na brincadeira com os primos. Lúcia não sabia aonde havia
deixado a mágica do Natal que sempre alimentou tão bem durante a infância, e
que agora se perdera.
Ela se prendeu a correria do
trabalho, e acabou não dando o devido valor para o que realmente valia a pena. Poderia
ter comprado à passagem com mais antecedência. Ligado para sua tia no
aniversário de 50 anos. Escrito uma carta para os avós, um e-mail para o primo
que passou no vestibular. Mandado entregar rosas para a mãe e compartilhado
dicas de filmes com o pai. Lúcia não fez
nada disso. Há um ano não via a família, aqueles sorrisos que sempre lhe
passaram segurança durante a infância. Há um ano não ouvia as mesmas histórias,
não via aqueles rostos conhecidos.
Naquele momento ela nada
poderia fazer. Apenas ligou para os pais para pedir desculpas e explicar a
situação. A voz da mãe ao outro lado da linha saiu embargada, porém não
menos afetuosa.
Na manhã seguinte Lúcia acordou
cedo e passou em casa, embalou o essencial e disse para a colega de apartamento
que um dia voltaria para empacotar o restante das coisas. Foi até o emprego e
pediu contas.
Antes de embarcar ela olhou para trás e
agradeceu por tudo o que tinha vivido ali, com a certeza de que sua vida agora
seria diferente e inquestionavelmente especial. Finalmente estava voltando para
o seu lugar no mundo. Lugar que sempre procurou, e que só agora conseguiu
enxergar.
Fim!
*Quero agradecer muito a duas queridinhas
que colaboraram com o texto de hoje: A Anatália do blog Outros Abraços e a Vanessa do Favo de Sonhos. Chaturinhas, obrigada
pelo carinho e por compartilharem as histórias de vocês comigo. Espero que
tenham gostado do “textim”!!!
Até o próximo
post!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário