sábado, 4 de junho de 2016

Ansiedade



Oi, ansiedade! 


Eu sei que você está aí, não precisa se esconder. Me senti no direito de entrar sem bater, pois é a maneira como você sempre faz comigo.

Sempre inconveniente e estraga prazeres, chega no dia da pré-matrícula da faculdade, um dia antes do meu aniversário, na sala de espera do hospital, chega na hora dos seminários, na prova que tanto estudei para me sair bem, dois dias antes de uma viagem, ou mesmo no momento em que combino uma saída com as amigas para daqui uma semana. Você chega do nada. 


Então, ansiedade, por tempos adiei essa nossa tão necessária conversa, porque não me sentia preparada para falar sobre você, para você, para mim. É, realmente ainda não me sinto preparada para isso, não sei quantas palavras serei capaz de transcrever no verso desta prova de matemática. Não me forçarei a nada, apenas escreverei o quanto conseguir. 


Você está comigo desde o meu nascimento, me fez antecipar preciosos e aconchegantes dias na barriga da minha mãe. A gente vive em conflito quase que diariamente e de uns tempos para cá, você anda ganhando todas as nossas discussões, sem exceção. 


É estranho como tão facilmente você consegue tornar aquilo que antes era tão prazeroso para mim, em algo doloroso e desolador. 


Eu não consigo mais assistir aos jogos de futebol do meu time, pois mesmo quando ele está se dando bem, eu acabo passando mal. Não tenho mais tanta vontade de ler um novo livro, assistir um filme ou série, ou me aventurar na cozinha com minha mãe. Eu vivo dias bons com a certeza de que eles só servem para anteceder dias ruins. Eu vivo com medo. 


Eu não sei muito bem o que fazer quando você chega, fico tão perdida que meu corpo acaba, involuntariamente, reagindo por mim. Sinto dores musculares, na nuca, na cabeça, falta de ar, taquicardia, moleza... Uma vontade absurda de chorar... Eu desabo.  


É uma angústia sufocante, uma tristeza desesperadora, uma montanha russa de mudanças de humor que só fazem aumentar tudo de ruim que sinto, seja por fora ou por dentro.


Acho bem complicado conviver com você. Não existimos para dividir o mesmo espaço, ou melhor, o mesmo corpo, este é o meu corpo e você não tem espaço algum nele, eu só preciso me dar conta disso, antes que seja tarde demais. 


Tentei me livrar de você em uma única consulta à psicóloga. Mas, a sala de espera daquele lugar só aumentava minha ansiedade. Eu fui fraca, desisti. 


Tem dias que acordo com uma vontade tremenda de lutar contra você, me faço forte. Digo que irei procurar ajuda e tudo mais (talvez hoje seja um desses dias, por isso estou conseguindo desabafar aqui), mas logo o escudo cai e eu volto a ser sua prisioneira.  


Acho que deu por hoje, não estou mais tão disposta assim a escrever sobre você, para você, para mim. Meio que a dor que comecei a sentir no peito desde o instante que te disse “oi”, está aumentando aos poucos. Porém, estou orgulhosa de mim por ter conseguido chegar até aqui. Eu preciso me orgulhar da pessoa que sou e das pequenas e grandes conquistas que alcanço. 


por Ranna Botelho


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